terça-feira, 14 de março de 2023

O amor se foi com as chuvas

 Minha amada se foi com as chuvas
Quando a terra secou as últimas gotas
A terra fechou as sementes para que, depois, 
Fossem aquelas colhidas pelas maos de outros
Eu nao possuia mais raiz alguma do meu amor
Mirabai me disse:
Um amor errado por tantos anos não estaria tão errado assim


De um poema escrito em algum final de novembro de 2020 sob a órbita da mística Mirabai

segunda-feira, 26 de abril de 2021

dos amores imaginários #1

eis que a superlua rosa havia desdenhado
de refletir-se nas águas do rio 'lcobaça
para deslizar no céu em pressurosa graça
e distar atrás de si o que se ia ao lado

vendo-a bela como se fosse o futuro dado
adiantei-me, açodei, do pé o pó à fumaça
cheguei ao trevo, olhei, à visão esparsa
o rosto dela ali na lua estava desenhado

murmurei-lhe, voz, retornei à amiga rima
ou te digo um soneto ou te faço serenata
a canção sonava, garria, teu nome marina

revelo a arte e o lugar do qual se trata
para que saibam o que o meu texto arrima
é do amor perdido, ela, a secular cascata

domingo, 3 de maio de 2020

Duas canções

Esta mulher —
Para ela 
Já fizeram até mesmo uma canção
Merecida, até.
Mas que eu jamais poderia ofertá-la
A canção de outro
Porque outro é outro na vida dela

E o que poderia eu fazer com minhas mãos vazias
Se não adotar um objeto 
Que escrevesse 
Uma nova canção para ela?
Uma canção sem música
Que não fosse uma canção dedicada
Para que esta nova canção não a rememorasse
Aquela canção de outrora feita
Para ela.
Uma canção soprada no ar,
Sem melodia
Só versos.

Até que 
Outro 
Algum dia
Um terceiro outro
Quando fosse escrever uma nova canção
Para ela
Esta mulher — 
Precisaria escrever
Esta mulher — 
Para ela
Já fizeram até mesmo duas canções. 

segunda-feira, 6 de abril de 2020

A solidão contínua e que continua
Entre os becos e ao lado da rua
Propaga chamas como tranças-de-dedos
Preservando de alguns os toques
Por ora quando não quer
Recolhendo arremedos;

Sobrarão alguns trapos de abraços
Por alguns que hão de decidir pelo
Riso do contato - quão indecente também haverá de ser - os dentes que morderem os lábios infectos: o cismo do contato e a terra treme com suas viroses.

Teremos um resto de corpo para chamarmos de endereço de uma existência ameaçada. Mas é apenas isso. A não ser que o Deus de vocês nos devolva um pouco da imunidade dos corpos santos que escolheram não se corromper. Fora disso, só mesmo um fio de carne.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

ravi

o filho-bebê
que não dorme
faz da mãe
coruja
por isso a mamãe
coruja
o bebê

se rasgássemos o tecido da sintaxe




rasgar tecido-se sintaxe o da




se riscássemos o sentido de possibilidade que está



dentro do se?


não seria doce?




terça-feira, 9 de julho de 2019

Para sentir uma manhã (Invernais)

Para sentir uma manhã de inverno
Escolha o ponto de ônibus que beira
à rodovia
Fique então parado
Vá de chinelos
Contemple o asfalto gelado
Enquanto o ônibus não vem
Se o seu coração
Quase parar
Antes do ônibus chegar
Você saberá
Que o frio do inverno
Subiu pelos pés
E coração
E se você
Nada falar
Nem nada pensar
É a certeza
Que o frio
Chegou à boca
Orelhas, cabelos, cabeça.

E se não sentir mais nada
É que você já se foi com o frio
Mas o inverno continua.*


*Três últimos versos lisanos (de Lisa)

O nascituro estelar (Invernais)

O Sol no Inverno nasce — 
Enrolado como um nascituro
Nos lençóis de uma maternidade — 
Envolto nas névoas gestadas
Por uma Madrugada horrível fria.
O Sol então abandona em suas primas
Horas, e torna-se um adulto
Irresponsável quente que dizima
Seus outrora lençóis de névoa.

O Sol não se acanha ou treme
Perante uma manhã relenta e tanta. 

sexta-feira, 21 de junho de 2019

soneto inacabado do inverno (Invernais)

sempre me resto frio e triste no inverno
o outono próprio já são tantos preparos
p'aro inverno — que não sei aos quantos
no frio em uma casca fico e me interno

fica o frio, fico triste, assim o conservo
o inverno — o inverno acoberta, pontos
por pontos, o frio de um outono severo
assim me conservo — em gélidos cantos

em frios versos, quedo frio, chega disso!
com tantos invernos, à tristeza regresso

quarta-feira, 12 de junho de 2019

sete dias

segundarei uns pulos
terçacertarei relógios
quartatacarei fogo nos pulsos
quintal de amoras mais jaboticabas
sextarefas herculosas arrastadas tristes
sabadou-te um abraço!
domingostarei bem mais!
quem não sabe que a noite
inaugura o dia
não percebe que
a sombra gesta a luz
o pássaro que dorme ao galho
se engana com o sol
o raiar não anuncia nada de esperança
a não ser o falso anúncio de um raiar de coisas novas

é preciso guardar a madrugada
e compreender o poder da chuva
no silêncio das horas
mortas
a chuva
fazendo de meros pingos trovoadas.

terça-feira, 14 de maio de 2019

às vezes me meto
em becos
escuros
da criação
e de lá retorno
não com a claridade da ideia
mas com uma ideia clara
de escuridão

segunda-feira, 29 de abril de 2019

vou-me mongólia
até da vida desbastar
as pedras que impedem
o caminho à ulaanbaatar

vou-me mongólia
até onde o espírito sobe
veloz desembestado corro
pelo deserto de gobi

vou-me mongólia
até que o corpo se quebre
em pedaços de matéria viva
cemitério na estepe

vou-me mongólia
até escaldar meus passos
deitar na terra
desterrar-me em espaços

segunda-feira, 30 de abril de 2018

cleuza, creusa, cleusa, creusa
do hospital materno
eu via a glande da igreja

sexta-feira, 27 de abril de 2018

a caminhada noturna

Luz do sol, Júlia, a luz
Se esparrama sobre ti 
Como se fosse um dos teus lençois, Ju
Julia, a luz do sol em ti
Lumia as paisagens que se formam
De tuas ancas, tuas coxas, tuas espátulas
A geografia do teu corpo
Em meio aos lençois, e a luz do sol
Raios sobre os teus cabelos
Meu desejo entre tuas coxas
Macias, brancas, curvas e sadias
Os pelos vermelhos de tuas pernas
O beijo em teus labios sem batom
Mesmo assim sempre tão vermelhos
Tão vermelhosa tua cabeleira bela
Ju ou Julia ou Julia ou Ju
Se hei de morrer de amores 
Que minha cova seja sob tua cama
Que meu corpo desapareça sob tu!

quarta-feira, 12 de abril de 2017

o cão em noite de lua

procurava alguns versos
do moondog - lê-los
não os achei - cheios chegaram
pelos ouvidos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

escrever-plantar-fazer

escrever um livro
plantar uma árvore
e fazer um filho

[é?]

livrar-se à escrita
arborizar-se à planta
e filiar-se ao feito

[ou quem sabe]

plantar um livro
fazer uma árvore
e escrever um filho

[seria?]

livrar-se à planta
arborizar-se ao feito
e filiar-se à escrita

[ou também]

plantar um filho
escrever uma árvore
e fazer um livro

[será]

filiar-se à planta
arborizar uma escrita
e livrar-se ao feito.

quinta-feira, 31 de março de 2016

ganhei um goji, um livro e um balão
o goji
para salvar o corpo
o livro
, abrir os olhos
o balão
, levitar a alma.

sexta-feira, 4 de março de 2016

rascunhos

os mortos
que não mais
nos falam
vivos,
nada falaram.

***

o poder do sol
é alcançar
mesmo aquilo 
que não está
sob o sol.

***

o trovão não diz
o relâmpago não escreve
não há sentido
nas tempestades
senão o curso
das gotas.

***

daqui alguém disse:
doutro lado do oceano
alguém há de dizer
que estamos nós doutro lado
do oceano.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

doutor;doutora.

doutor, meu fígado;

o que anda cansado
no interior do fatos
que trabalha calado
não negou os pratos
trabalhou, arrastado
padece; maus tratos.

meu fígado, doutora

é sobre meus tratos
de amor, e foi dado
como vivi ingratos
vejo-me certificado
doença dos retratos
veio por ter amado

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

eis aqui ainda o baiano

o grego, e o egrégio
poeta ágil e não régio
o poeta do passado
de ministério e mistério
o gregório, o egrégio
o profano, inundando
despista, beija mão do santo
o poeta, o fugidio
o fujido e a foda
a forja e o fudido
o poeta egrégio
da poesia de flor carnívora
bela e morde essas moscas
que se valem
de carne viva
ou carne morta.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

a ana, a ana.

tudo foi bem assim;
espera!
a vida era feia, logo logo embeleza
foi naquela noite - eu morrendo de amores
pela ana cristina cesar.
outros versos, outras rimas
fazer a poesia virar uma oração.
se isso não resolver, que vire reza|
rezar por esse amor sem medidas
(reversão do finito) pela ana cristina cesar.

sábado, 10 de outubro de 2015

#3

corro com a escrita
socorro com a escritura
como a pedra em silêncio, grita
como paixão vacilante, enfim, tortura.

como a pedra leva marcas, escrita
com a paixão vacilante se escritura
no socorro, grito
ao correr, perduro.

ao fim da rua encontro: muro
quando o rio seca: pedra
na paixão: um corpo duro.

no corpo toca a faca
se nos olhos, cega
se no peito, cala.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

frio de novo
não me canso 
de dizer
que toca os meus pés
todavia, hoje
a microsoft me oferece
o windows dez

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

tímida quimera

Envermelha! Guarda da tua passagem
No caminho da sombra, a lembrança
De quando eras, ou foras a criança;
Admirada entre tantas, não à margem!

Envermelha! Se tu vês que a viagem
Equipara-se a uma esquecida dança,
Recorda-te que dava-me a esperança
Da beleza que pedia a aprendizagem!

Escutas, pois, passos dados na areia?
Era a moça de pele clara como a tua
O sorriso que ao sorrir-me, incendeia

Foges da sombra que te envolve nua,
Ou foges do olhar que em ti passeia?
Recusarás do sol aquela luz tão crua?

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

breves jornadas

É alto o caminho da lua
E vazio estão os carros
Estacionados pela rua

É pesado tatear o olhar
E o olho vagueia tudo
Sem saber se vai achar

É perigo o medo meu vizinho
Quando sinto que a boca
Toca o fino fio de vinho

É sensível moça o vermelho
Dos teus lábios que faz de amores
Cair por ti teu próprio espelho.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

floraline

a primavera irrompeu quatro dias antes
nos meus dias 
veio anunciada em palavras as mesmas com as quais
a gente tece poesias

a primavera veio em cheio anunciada com
o nome da mulher 
que antes poesia alguma eu já
não mais tecia

mas a natureza expõe no inverno a dor
e quando a tristeza parece enraizada
da raiz calada na estação que chega
nasce em meio à sombra inesperada flor

é na vida que se emoldura a quimera
que se vê o trabalho mudo do mundo
e na desesperança que assola a terra

foi nos dias de silêncio tão profundo
que a Floraline - a flor, a Aline 
veio como sendo a própria primavera


domingo, 6 de setembro de 2015

dançar, beber, cantar.

na casa vazia os demônios dançam
convidam-me à dança mas
digo-lhes: não sei dançar!
e então os dançarinos dão uns passos
e pelas passadas começam a cercar
me.

na casa vazia os demônios bebem
convidam-me à bebida
digo-lhes: não posso beber!
e então puxam as cadeiras; sentam
e os vapores de vinho a entorpecer
me.

nesta casa outros demônios cantam
convidam-me aos cânticos
digo-lhes: não quero cantar!
e então engrossam as vozes, gritam
e os gritos começam a perturbar
me.


na silenciosa casa os demônios
jogam os utensílios pelos ares
sussurro: não me importa!
demoraram tanto que coisas se tornaram
atiraram-se por fim aos outros lares!

fechando a conta.

ao abrir meu Obra completa
de João Cabral de Melo Neto
e encontrar entre os poemas 
de pedras, o coração-objeto 
traçado por grafite em algum
título de poema onde exceto
eu achava verdadeiro o verso
revelava teu bem falso gesto
de ter prometido o encontro
e ter pior mentido teu afeto

e ter por isso revelado tudo
a marca da borracha passei
no relevo do coração mudo 
a casa passada que habitei 

relendo hoje Obra completa
encontrei entre-folhas tanto
farelo e apontava feito seta
dias antes os quais não mais
no meu peito você era festa

dias hoje tais quais não sinto
mais tristeza; ao despedir-me
de ti, tão tristonho labirinto. 


terça-feira, 11 de agosto de 2015

da garganta
pode não vir
a vontade de falar
a ideia de falar
o desejo de expressar
mas se a garganta inflama
não pode haver
vontade de falar
idear
vontade de expressar

se a garganta se inflama
o corpo em som se cala.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Meus pés
Eles estão frios
Tocam
Ainda um chão mais frio
É o inverno que ataca
O topo das árvores
E se espalha pela
Raiz do corpo.
É o inverno - meus pés, os dois
Sinto o terror do frio
Que se espalha pelos dias
E tombo feito folha, me silencio.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

se Irene ir
a sirene toca
e Irene vem.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

dormir e esquecer o mundo
quieto
quietar e deitar o mundo
que é
esquecer e deixar o mundo
afeto.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

ali né?

transformo-te em fada ou mesmo
não o faço e deixo-te feito o nada
mas se fosses meu amor sem medo
à cova chegaria, a minha finisterra

dessa vida pouco já vale e valeria
insistir mil vezes por amar fracassos
frágeis membros me carregam fracos
francos sorrisos entre outros falsos

desboto-lhe as flores de tua idade
pra colher olheiras dos teus olhos
envelhecer-me por saber-te velha

assim acaba novamente a bela musa
se não foi agora não será mais nuca
nunca o beijo seu me beijou à luz ah!

qampo qorpo

Qampo santo - Qorpor
Torpor de cheiro
mal d'odor
mas asoras
já não são más
e mais vez cada
O Qorpo Torpor
[aqui tem uma palavra que fiz no manuscrito e ainda não consegui decifrar]* Ao campo
Terra de vistarada.


*logo pois essa observação não deve ser lida em voz alta caso seja lido em voz alta.

sábado, 13 de junho de 2015

amar-te
é, pois
amor-te

quarta-feira, 10 de junho de 2015

ou-ou

as folhas caem
porque é outono?
ou outono vem
chamado pelas?

quarta-feira, 3 de junho de 2015

dativandos e um nominativo

mir - e não é gato;
dir - e não é claro;
ihr - mas não foi;

wir - e não olhava.


im.

não somos ainda
nem outro
para o outro

você que não é para mim
eu que não sou pra você
rima que fica bem assim 
nos eternos rimados de im.
o arrependimento de ter nascido
de ter fome
mas saber
da dor de nunca ter comido
o arrependimento de ter crescido
de decidir 
sem saber
pelo que nunca foi escolhido
o arrependimento de ter envelhecido
e morrer
com o arrependimento de um dia
ter nascido.

o poeta acorda e se arrepende
assim também
de um dia ter escrito ou
mesmo começado sem querer
com o arrependimento de ter
,um dia, arrependido.

domingo, 31 de maio de 2015

aeiou

o a: a é a!
e o e: e é e ou e é é?
e o i: i é i!
e o o: o é o ou o é ó?
o u: u é u!

sábado, 30 de maio de 2015

mapema

o pé é um mapa
mapa é um escrito
mapa é poema
poemapa
ou 
mapema

o mapa de um pé
é mapé
logo o pé 
é poema
péema
pois
poiesis

terça-feira, 26 de maio de 2015

Informe

Na entrada da Loja de Lia se lia:
ATENÇÃO
Se procura versos claros e distintos
Favor se dirigir
A seção Cartesius
Situada
No andar Pineal.

sábado, 25 de abril de 2015

sob/sobre

o tatu tateia
sob a terra
a escuridão
alheia.

o tatu tatua
sobre a terra
a claridade
alheia.

o tatu tutela
sob a terra
sua casa
inteira.

o tatu tenta
sobre a terra
escapar:
trapeira.

o tatu tuteia
sob e sobre 
a terra e não é
tuta e meia.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Os meninos jogavam bola.
Os homens faziam blocos.
E os adolescentes entre os dois
Não sabiam bem ainda o que fazer.

sexta-feira, 20 de março de 2015

diante do incerto
enfrentava a dúvida mais funesta
antes poeta e blogueiro?
ou blogueiro depois poeta?

quarta-feira, 11 de março de 2015

para tudo que é 
difícil
para 
tudo o que é difícil para
para tudo 
que é difícil
para
tudo que é difícil
começa
enerva
e para.

sábado, 7 de março de 2015

Aviso

Aqui 
Poema algum está à venda
Todavia 
Sempre há o risco
De serem roubados.

domingo, 1 de março de 2015

o lugar mais lindo
do rio
e mais seguro
margens
nas quais não nado
nas quais só ando
como a água
em relação às margens
nem nela vou
nem ela vem.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

reveião pobreta

Pobre dos pobres diabinhos
Da região
Que come o feriado
Apenas no primeiro dia já dado.

Pobres de nós pobres
Que nem feriado temos
E quando o temos
Não podemos
Destrinchá-lo
Como se deve
Em enforcamentos.

Pobres diabinhos pobres
Nós desta cidade e adjacências
Medeirossomos
Itanhêstamos.
Tivemos de voltar.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

fogo de natal

Um fio de fumaça
Vindo de um fiorino
Incensou a avenida
De gente e arruaça

Quase-noite de natal
E a quente carcaça
Derretendo em fogo
Conjuntando praça

Foi fogo misterioso
Apaixonado em lata
Fez a avenida morta
Em pavimento prata

Que bela figura quente
Incandescente em raça
Teixeira amarelo fogo
Às portas da desgraça.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Sobre o cemitério
da nossa cidade
a lua hoje nasceu

do outro lado
morria o sol sobre
a maternidade.


quinta-feira, 26 de junho de 2014

o almoço do dia vinte e seis

O amor à primeira vista
Que nasce na fila do RU
Descobri que não resiste
À passagem das catracas.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Deduções.

O dia vai até à meia-noite.
Conta-se assim
A noite dentro do dia.
E a madrugada que irrompe
Já é um novo dia:
Assim se prova
De quantas trevas
É feita a claridade!

sábado, 7 de junho de 2014

Muito me espanta
Que tenham
Tantas letras tê
No termo quantitativo
Tantas quantas têm também
Todas as citadas anteriores
Todas, tudo tem.

sábado, 3 de maio de 2014

Sobre um poema a partir de um comentário na página do Uol.

A Lua é linda. A Lu também.
A Lua irradia o astro. A Lu, o bem.
A Lua não se mostra toda. A Lu, idem.
A Lua carambola no espaço. A Lu quando vem.
A Lua é vista da Terra Toda. A Lu só pelos que sabém.
A Lua é desgastada por meteoros e versos.A Lu pelos que a amam. Amém!

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Uma média-certeza para uma meia-noite

A preguiça de um poema
É a preguiça de todas
As poesias.

e;

O único fracasso exitoso
Amar tendo perdido para
Perder sem nunca ter achado.

O trinta e um no sete

Mais
Velho
Hoje

Preparei um suco de maracujá e deitei

Bem
Mais
Cedo.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Multidão de multiDanis.


Uma tempestade passou-me corredor
Correndo - como vento que desabafa
As estruturas que mantém abertas janelas

Uma tempestade flutuou-me corredor
Cheirando - como o vento que flerta
À toa sem sabendo mesmo ser amor

Uma tempestade feminina brevidade
Abreviou-me todos meus substantivos
Se vejo, desvi. Passaram-mil Danielas!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Uma árvore para a estação.

Aproveitei o início da primavera
Para plantar uma árvore do silêncio
Seus frutos não brotam dela

Mas dos ventos que a rodeiam
Como é arredio o turbilhar do clima
Essa árvore não é percebida
Salvo quando alguém 
Tenta ver seus frutos

Mas


A árvore do silêncio não brota

Mais do que aquilo que se quer colher
Imóvel e silenciosa
Ela cresce quanto mais cresce o barulho
Sob a sombra de suas copas
Os sins e os nãos pouco podem
Não mais do que apenas
Provocar uns riscos - traçados
No tronco dessa árvore
Tem muitos nomes e pares
Mas ela passa silenciosa na primavera
No meio de tantas outras
Árvores.

terça-feira, 23 de julho de 2013

provavelmente

Você que mora num lugar perto de onde
Provavelmente não sei o nome
Você que dorme num lugar onde de perto
Provavelmente não tem sonho
Você que estuda no mesmo lugar que
Provavelmente eu finjo estudo
Você que sonha com coisas que de longe
Razoavelmente não são iguais
Você que provavelmente vive num lugar onde
Você provavelmente nem sabe que
Neste lugar, nem endereço rua ou nome tem. 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Amamos!
E já ninguém mais sabe dizer
Se isso é pretérito, desculpa ou presente.

domingo, 16 de junho de 2013

vera compagnia

Alguém [em silêncio]
ao lado teu
vale mais do que mil em tumultuosos sons
ao teu redor distante.

E ao rodar o mundo
descobristes que
ao lado teu - mesmo sozinha
O mundo era pra ti, não meu.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Quem disse que a televisão é uma janela para o mundo
Não sabe o que é:
Uma tv ligada na habitação de uma pessoa ilhada. 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

102

História tão vieja quanto o mundo
Aquela do poeta enamorado
Pela querença da mais linda donsela

Mas será que a um amor desses, ela
Um dia hás de passar olhando, os versos
Que ele havia feito primeiro e segundo?

Mais um dia, outro dia, somo um mês
Desde quando amor de poeta presta?
Se quando, ela me deixasse duma vez

Assim és que me vê passando mei' torto
Que não sabes do olhar que em ti, pouso
Já não ando vivo-triste, mas triste-morto.


101

já não recordo encontros
mas
saudades

domingo, 26 de maio de 2013

um rio

Pois se rio sozinho
Quando penso em ti?
Suficientemente o bastante
De tantos rios
Penso em dar nome já
Ao oceano formado por eles
E cada vez que rio mais
Pelas ruas
Pelas calçadas
Sozinho em salas de aulas
Em lotações lotadas
Em cada lugar
Sem você saber
Vou deixando um riso
Um rio
De alegria, para o mundo
Paravocê!

sábado, 11 de maio de 2013

Mais

Mais do que os pés
É o coração
Que fatigou.

terça-feira, 19 de março de 2013

Ouflor

Uma flor dortelã
do horto municipal
de algum município 
doutro lado deste mundo
nasceu
uma flor dortelã
uma flor;
se ainda é
se ainda for
Flor fuzilando amores.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Reclame

Não há sebo em Teixeira de Freitas
Não há
Uma cidade tão ensebada, mácula
Urubus que dominam o ar
E não há um sebo
Estantes de livros velhos
Novos OU rasgados
Livro se é roubado
Nunca é reclamado
Livro se é doado
Nunca é reclamado
Livro se é emprestado
Nunca é reclamado
Livro se é vendido
Nunca é lido
Livros são feitos para estantes
Não para pessoas
Pessoas leem boletos, contas
Extratos de bancos
Promoções de supermercado
Sapatos
Quisera eu escrever um livro
Pra completar aquele buraco
Aberto na estante.
O bom livro é aquele
Que nunca se acomoda no armário
Mas que vive jogado
Sobre a geladeira
Na bolsa de viagem
Esperando ser
Lido
Mesmo que ele seja
roubado/rasgado/novo/velho/emprestado/doado.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Antes da aula


Um milhão de bitucas
de cigarro
No telhado ao lado
do IC quatro

Duas cadeiras

no intermezzo do espaço
E um copo de café
de plástico
delicadamente posto
Equilibrado.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

me morro.

Um balaço seco me alcança
Numa esquina
Num assalto
Assalto no pesadelo
E eu deitado
Com a mão que retira a bala
E cobre o furo
Irrompimento de sangue
Assalto
E eu assassinado
Caído no asfalto.

Não é o sono
O maior parente da morte
É o pesadelo
O mais proche'
Deste tipo de sorte. 

Adendo ao poema:

À que me lê
Aquela
Que me interroga
E sabe que o mundo não acaba
E sim as pessoas doidas é que acabam com o mundo
Contou-me de que
Morrer no sonho, de toda sorte
Não deve ser azar ou coisa má
Demais, Mariana me aponta
O alívio de que 
Talvez não tenha morrido
Nem mesmo de mentira
Naquele pesadelo, sonho
As notas
Morrem ou perdem
o Som? 
E o som da morte
Não é o choro
Mas o silêncio.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Uma média-dúvida para um meio-dia

Alguma vez já pensaste
Que quando o que escreves
Sabendo que ninguém o leia
Escrevias endereçando
A poesia à própria poesia?

domingo, 19 de agosto de 2012

Sobre as águas desse rio
O vento que corre é saudade
Abaixo da superfície
Suas correntezas: amarguras

O rio que segue, sabe
Que chega algum dia
No infinito dele que é
Mar e morte, mesma coisa

O rio aceita embarcações
Desde que não afundem
Que elas não se amarrem
Não desçam onde não podem

Sobre as águas desse rio
Corre um bote pequenino
Que tem por apelido dado
Veloz e dardo, amor

Amor que segue desde
Soprado por vento saudade
Que vai em direção ao mar
Que só ama em superfície

Que sempre acha
No mar, seu fim
Que sempre se acaba
No sal, enfim.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Ali nem se vive
Ali nem se morre
Anis amargos nasceram no inverno
Ficamos de olho
E depois, os olhos da mãos
Se tornaram as mãos dos olhos
E colhemos
A brevidade daquilo que já nasceu tão breve
Sem vazio-ou-cheio
Sem vida-ou-morte
Ali nem se sabe
Que me saiba
Que não sei
Que ali nem vive
Sem mim.

¡ Anis amargos nasceram antes do verão
Na primavera mais fria
De todos os tempos das estações!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Ονειρεύομαι 19/07

Sonho que some num sonho
E me consome nuúmnico sono
Númeno do monumento impossible
Te vejo deslizando em
apresentações das aulas de francês
Ton visage très merveilleuse
Maravilhosa como só poderia ser num sonho
Maravilhosa tanto quanto nesse sonho real
Que é o mundo
Soubesse a hora certa que havia aparecido
Faria a vigília invertida da vigília
Passaria a noite
Acordado no meu sonho
Esperando reencontrar teu rosto
Ton visage
Le plus beau paysage
Enfin
Do fim que há pouco tive
E do amargo gosto que vive
E só se sente ao viver.

sábado, 14 de julho de 2012

lojin bem longe do dia 14 de julho...

Olhos
Procuram
Olhos para me olhar
Os meus
Olhos estão naufragados
No fundo de uma garrafa
E eu
Naufragado
Em você
Mar sem ondas.

***
A goleira, li, diz
Que nos jogos
O esporte favorito é
Sexo
Modalidade humana.

***
Duas cervejas
São chaves
De qualquer porta
Das percepções
Também


***
Versos vagabundos
São
Os que
Saem de noite
Versos pornográficos
São
Os nus
De sentido.

***

Meu fígado
É seu
Como é o coração
Como assim?
Queria apenas
O Sangue
E não a biles?

***
Vejo a gata agora
Com a camisa do Cruzeiro
Vale milhões de Reais
A imagem
Aumenta os milhões
Se ela tirar as estrelas.


***
Não importa
Se você está offline
O seu boneco verde
Desse trocesco MSN
Brilha para além
Dum status.

***

Se fui ver o mar
Pra ficar mer lhor
Fiquei enquanto estive lá
Se voltei
Pior fiquei
Devia ter tragado
O mar no bolso.

***

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Soneto do coração que morre

Abre-se o coração feito a janela
Que se deixa abrir pra ver o Sol
E fecha à tarde quando se farta
A luz do Sol não esvai, ele é ela

Bate inconsistente, não se abre
E não sabe o que é do caminho
Pisar no espinho quieto em flor
E quebra-se de morte em febre

Dirá Adeus a ela em toda tarde
E cada noite descobre ao pouco
Seu coração bate em desalinho

Na manhã abre a janela ao Sol
E cada raio revela-me o que é:
O amor de um coração sozinho